Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Apocalipse 2012 - Página 7

Quando tudo está perdido/Sempre existe uma luz/Quando tudo está perdido/Sempre existe um caminho/Quando tudo está perdido/Eu me sinto tão sozinho/Quando tudo está perdido/Não quero mais ser/Quem eu sou - Legião Urbana.
  
   Imagens intermitentes do passado vieram a mente de Iratus assim que o espírito do recém-nascido entrou na lareira, a sua mente as processava tentando achar algo despercebido. Quando Furiosus derrubou a lareira, a sua mente o levou de volta ao passado e ele se viu entre as labaredas observando Hesediel no momento que fazia a coleta de sangue do recém-nascido. Ele processou a cena minuciosamente, prestando atenção em todos os detalhes, então, viu Hesediel enfiar a pena na sola do pé do recém-nascido, coletar e acondicionar o sangue em uma ampola, depois se viu embrenhar mais ainda por entre as labaredas, receoso em ser descoberto. Inopinadamente, as imagens do passado escureceram em sua mente e ele somente conseguiu ver um grande telão preto rodeado por fogo. Controlando as suas emoções, sentido ser queimado, Iratus mentalizou a sua imagem do passado saindo de dentro das labaredas, incendiando o grande telão preto para uma nova tela com camada branca surgir e aos poucos ir ganhando cor, revelando o exato momento em que Hesediel injetava o plasma dos deuses no recém-nascido. Trazido lestamente de volta ao presente, ele percebeu que não adiantaria contar a Furiosus o que havia acontecido, pois a raiva, além de impedi-lo que escutasse, o impelia a outra ação, a destruição da casa. Iratus procurou por Lucius e o viu próximo aos escombros, empunhando a espada, puxou-o pelo braço e o sangrou. Girou em torno da sala e encontrou o que precisava. Foi em direção ao corpo do pai do recém-nascido estendido no chão, preso a cruz pela espada de Furiosus. Ao arrancá-la, ele chamou a atenção de Furiosus para si, rolou com os pés o corpo sobre a cruz e espargiu sobre a mesma o sangue de Lucius embainhado em sua espada.

   Iratus já sabia o que ia acontecer, no entanto, ele ficou tão surpreso quanto Furiosus pela intensidade da luz iluminada sobre a cruz e apenas pequenas sombras formadas na ponta. Nas veias de Lucius corria em maior quantidade o sangue plasmado dos deuses do que o sangue plasmado do Senhor das Trevas, e a culpa era sua por não ter percebido Hesediel injetar o plasma dos deuses no recém-nascido.

   Iratus não deu ouvidos aos gritos de Furiosus para que ele não fizesse o que pretendia, pois antevia o pior. Os gritos foram em vão, passaram despercebidos por ele e se perderam no vento. Cego e inconsciente, ele agiu por instinto. Iratus, proferindo palavras desarrazoadas, partiu com a espada Daemo em punhos para cima de Lucius.

   Um buraco se abriu no chão revolvendo os escombros na sala e arremessando Lucius para longe. Um odor sulfúreo saiu do seu interior e a sala foi tomada por um calor insuportável. Iratus freou desesperadamente com os pés e percebendo que não pararia antes de cair no buraco, cravou a sua espada no chão e esta o arrastou para próximo do precipício. Quando ele se ergueu e tentou descravar a espada, uma imensa sombra surgiu diante de si.

 

   Os olhos amendoados, o rosto redondo, o nariz pequeno e afilado, os lábios grossos e úmidos, a pele sedosa, os cabelos volumosos e cacheados, o pescoço longo, os ombros largos, Hesediel, na forma humana, os soube ao tocá-los com as mãos, no entanto, antes que o desejo o levasse a querer saber mais do que pudesse, ele recolheu as suas mãos e mentalizou a forma angelical.  Ao se transmutar em anjo, ele ouviu Ariadna dizer que a cor dos olhos estava entre o azul céu e o verde mar. Hesediel levou as asas aos olhos como se desejasse ter a visão, e antes que outros desejos tomassem conta de sua mente, ele aguilhoou ao cumprimento da sua missão guardando a espada Divus na bainha e o recipiente Lux no coldre, colando o corpo de Ariadna ao seu, amarrando a cinta de proteção em volta dos seus corpos, abrindo as asas e alçando voo.

   O vestido de algodão branco de Ariadna bailava no ar de acordo com o sentido do vento, ora deixando as suas coxas sem pelos à mostra, ora não. Hesediel, mesmo não enxergando, sentia o contato da pele de Ariadna revelar em sua mente a fotografia do seu corpo nu. Por mais que ele se concentrasse na sua missão, a atração que sentia por ela o desarrazoava. Os suores e os tremores pelo seu corpo, o aceleramento das batidas do seu coração eram provas que ela o atingia. Havia algo nela que abalava os imortais, ele não quis saber o que era. Acelerou as batidas das asas, pegou uma corrente de ar e embicou rumo à terra, antes que o peso do corpo aumentasse devido a sua concentração ser desviada para o desejo ou os tremores o desnorteasse.

  

   Furiosus anteviu essa cena, pois sabia que o Senhor das Trevas não deixaria Iratus assassinar o seu filho, afinal, muito mais do que pela herança sanguínea, os seus ensinamentos, Lucius aprenderia pela convivência. Os seus gritos de não atacar foram em vão, se perderam no vazio. Iratus selou o seu destino e diante do buraco, próximo a sua queda, ele viu a sombra se transmutar e descravar a sua espada Daemo do chão e cravá-la no seu coração. Ele sabia que assim não morreria, se o Senhor das Trevas quisesse eliminá-lo, bastaria ter cortado as suas asas, se não o fez era porque queria fazê-lo sofrer.

   O Senhor das Trevas cravou mais ainda a espada em Iratus varando as suas costas, quando a tirou girando, Iratus sentiu a raiva do seu senhor. Vociferando e com o ódio espremido entre os dentes, o Senhor das Trevas o agarrou pela gola, olhou dentro dos seus olhos na tentativa de encontrar o medo e como não achou, selou o seu fim com um beijo na boca. O Senhor das Trevas esperava que Iratus pedisse clemência, como nenhuma palavra saiu da sua boca, ele o arremessou para cima, desejando que a sua queda fosse dolorida e lenta. Iratus varou o telhado e lembrou que Furiosus havia lhe dito, assim que eles começaram a treinar com os Guerreiros Shaitans, que a morte é bela.

   Ele não voava como um anjo Shaitan, mas impulsionado pela força impregnada pelo Senhor das Trevas, não sabia se iria encontrar com a morte na ascendência ou descendência. Quando ele a viu, ela tinha os olhos amendoados, não sabia se eram azuis céu, ou verdes mar, os cabelos cacheados pareciam fios de ouro, a pele alva sem um fio de cabelo ressaltava a sua beleza. Iratus encontrou a morte e ele não estava nem na ascendência, nem na descendência, pois estava parado, transformado em uma estátua de sal.

   Quando Ariadna recuperou do susto, nunca imaginou tanta feiura em um anjo. Iratus caiu vertiginosamente sem se esfacelar com o atrito. Hesediel, sem poder enxergar, pediu a Ariadna que descrevesse o que estava vendo. Ela lhe contou da queda do anjo negro e da destruição do plano terreno. Sabendo que o anjo negro só poderia ser Furiosus ou Iratus, Hesediel pousou para preparar o ataque, ou mais apropriado dizer, a defesa.

   Iratus caiu em pé próximo ao precipício na sala e se esfacelou transformando-se em uma nuvem negra que adentrou a escuridão do buraco. O sentimento de dor pela perda não havia entre os anjos Shaitan, pois a ausência de luz os impedia de sentir. Furiosus não esperou a ordem de ataque do Senhor das Trevas, o seu olhar já dizia o que tinha de fazer. Ele deu a volta em torno do precipício na sala e saiu voando pelo buraco no telhado aberto quando Iratus foi arremessado.

   Lucius despertou tendo diante dos seus olhos o seu pai, Petrus. Deu-lhe um abraço efusivo, logo em seguida chorou compulsivamente, e ainda choroso, pediu-lhe perdão pelo que havia feito. 


Continua domingo às 12hs00min


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Imagem Google 










34 comentários:

  1. Estava eu no Planalto Central, desconectada da internet...e vindo hoje aqui, dei de "ré" e fiquei inteirada dessa narrativa fantástica...Está bem interessante e não quero perder a continuação...
    Sua imaginação é bem "fertilizada", você irá longe, mesmo com o "fim" desse mundão, chamado Terrra...

    Um beijo,
    da lúcia

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    1. Obg, Lúcia, pelo carinho e pela chegada. Volte mais. Bjos.

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  2. e voce continua e continua!!!! sempre bem escrito , mas...a mim estas palavras mais que nada me assustam:))
    abraços

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  3. Continuo acompanhando o desenrolar de seu conto, com a mesma expectativa, que é a vitória do bem. E Lucius já despertou para o arrependimento. Abraços!

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  4. Olá!
    Eder
    risos...minhas marcações:
    ... para Lucius,nem tudo está perdido, o sangue plasmado dos Deus maior que o sangue do Senhor das Trevas, e o abraço efusivo em Petrus
    ...para Iratus, a morte não foi tão bela
    ...Hedesiel e Ariadna, hum!
    Aguardar para ver!
    Obrigado!
    ótima quinta feira!
    Abraços
    ClicAki Blog(IN)FELIZ

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    1. Pois é Felisberto, as personagens vão percorrendo o seu destino com o fim da história. Abçs e boa quinta.

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  5. Eder,mais um envolvente capítulo.Devagar,vou entendendo essa guerra de anjos do bem e do mal!...rss...bjs e até a próxima!

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  6. muito bom Éder, mesmo sem conseguir entender bem pq perco alguns capitulos, vibro com a intensidade da tua narrativa. Beijos

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  7. Oi Eder

    Esta me parece ser a sua série mais complexa e rica em detalhes. Um história incrível e super instigante!

    Beijos

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    1. Realmente, Van, e foi a que mais deu trabalho para construi-la. Foi, tb, a primeira que não podei para adequar ao blog, deixe a inspiração me levar até o fim. A história foi escrita no mês 09/11. Bjos.

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  8. Cheguei a imaginar o tal calor insuportável e o odor sulfúreo! Essas descrições que você faz são sempre ótimas, Eder! E que cena emocionante para fechar o capítulo de hoje. Domingo tem mais e de noite apareço! Abraços!

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    1. Obg, Sérgio, pelo comentário elogioso. Agrada-me saber q vc tem essa percepção qdo me ler. Estarei esperando a sua visita no domingo. Abçs.

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  9. Essa introdução com Legião Urbana, tá massa! Assim como está cada vez mais instigante essa história, homem! Lucius se arrependeu de verdade, será? Iratus morreu mesmo (rsrs), será?

    Aguardemos cenas dos próximos capítulos.
    Beijo!

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    1. Milene, vou lhe responder as perguntas com outras perguntas. Iratus representa a maldade sem arrependimento, então, será que ele morrendo, morre-se tb a maldade? Qtos Iratus a nós? E qtos de nós se arrepende desses atos?
      A Legião é e sempre será a melhor banda, nenhuma outra a superará.
      Bjos.

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  10. Ah,Éder!Quando a gente pensa que vai acontecer uma coisa,você nos surpreende com outra deixando a trama ainda mais intricada e aumentando mais a nossa curiosidade.Sei não viu,mas até a trilha sonora que introduz essa passagem foi escolhída na medida exata para os personagens.É mesmo acompanhar pra ver onde isso tudo vai dar.
    Bom dia!

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    1. Obg, Bergilde, pelo comentário carinhoso. A trilha marcou um dos momentos em q eu perdi o meu emprego, os meus ídolos, Senna e Renato Russo e minha namorada, portanto tinha muita a ver com esse momento deprê q vivia. Bjos.

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  11. OI EDER!
    TAMBÉM EU, COMO VÁRIOS OUTROS LEITORES, TORÇO PELA VITÓRIA DO BEM.
    MAS, ACONTEÇA O QUE ACONTECER, O QUE É INEGÁVEL É O TEU TALENTO PARA ESCREVER CONTOS.
    PARABÉNS.
    ABRÇS


    zilanicelia.blogspot.com.br/
    Click AQUI

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  12. Eder, adoro essa música do Legião, embora seja triste e tenha marcado um período difícil na vida de Renato Russo. Sua história está envolvente como sempre, reforço que essa me dá medo, hahaha, mas sempre bem escrita. Espero que esteja se sentindo melhor! Um abraço!

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    1. A mim tb, Bia, a música marcou tanto q até hj a tenho como mantra: "qdo td está perdido, sempre existe yá luz/Qdo td está perdido, sempre existe um caminho". Acho q com esse mantra, eu respondi a pergunta se estou melhor. Bjos carinhosos.

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  13. Olá!
    Éder
    uma vez eu "disse" no Blog da Bia,que devo ser um dos poucos, que não tem uma música marcante.E é verdade. Penso que é "incrível" isso.
    Obrigado pelo carinho da visita!
    Ótimo final de sexta/Sábado
    Até domingo!
    Abraços
    ClicAki Blog(IN)FELIZ

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  14. A mim, Felisberto, os cheiros trazem mais recordações do que a música. O perfume marca tanto em mim que eu sinto o cheiro mesmo ninguém usando e daí viajo a um fato que me aconteceu ou a pessoa que o uso. Música, realmente, que me marcou foi a Legião. Abçs, bom sábado e até domingo.

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  15. Ei Eder...

    Hoje fiz do teu blog meu livro..rsrs, e comecei a ler os capítulos anteriores até chegar aqui e me deparar primeiro com a citação da música que pra mim é uma obra que toca a alma, embora traga alguns vultos melancólicos, unindo se a uma história que nos faz imaginar momentos super intensos,e cheio de emoção, gosto de histórias que me instigam a formular o desfecho sem antes mesmo de ser escrito rsrs...

    Beijos e lindo final de semana pra ti...

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    1. Obg, Cecília, por transformar as minhas páginas em um livro q vc gostou. Para ti, tb, um finde de Luz. Bjos.

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  16. Gostei do que li, e espero a outra parte
    por isso parabenizo, e deixo um abraço com carinho
    de bom final de semana
    Bjuss
    RIta!!!!

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  17. Bom, os rumos realmente estão seguindo pelo inesperado, no entanto, alguma coisa tem me escapado.Não sei ainda o que é mas saberei! Preciso conhecer a clínica que essa Ariadna anda fazendo depilação pô! sacanagem isso né? Precisa ficar falando que não tinha pelo nenhum? Até anjo é tonto mesmo quando olha mulher bonita, acaba não vendo os defeitos! rsrsr Gostei do final desse episódio, me remeteu a momentos que tenho vivido. Gr. Bj. e um lindo final de semana pra ti meu amigo querido!

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    1. Menina maluquinha, vc esquece q a gostosa da Ariadna é filha dos deuses, ué, ela pode tudo...kkkkkk. Homem é bicho besta e um anjo caído então, viu uma mulher bonita, fica de 4, com a língua para fora falando au au au, bem, coloca-se uma coleira e fica igual cachorrinha de madame...kkkkkk. Espero q esse momento q está vivendo lhe traz tranquilidade. Bjos deste teu amigo q está do outro lado, mas ao teu lado. Um finde de Luz.

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  18. Eder,
    Desta vez estou atrasada para vir ler as novas páginas da história, mas mais vale tarde que nunca.
    Gostei deste capítulo. Afinal, nem tudo é negativo.
    No entanto, vou ler já a seguir a página 8, pois o final desta deixou-me muito curiosa.
    Até breve.

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    1. Dulce, não importa quando, sempre estarei lhe esperando. Bjos. bom finde.

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